Autor: Mensário das Igrejas Presbiteriana e Metodista de Portugal
Fonte: http://www.igreja-metodista.pt/pe_pdf/PE_909.pdf
EDITORIAL ICONOCLASTAS
Sempre os houve e haverá. A História está
cheia de exemplos: Moisés, irado, manda
destruir o bezerro de ouro; os ortodoxos
bizantinos envolveram-se em lutas prolongadas
na controvérsia sobre as imagens; na
Reforma, Lutero teve de conter os excessos
dos radicais que destruíam as esculturas nas
catedrais e agora lemos dos Talibans
destruindo os Budas gigantes.
A ira de Moisés não destruiu a idolatria
nos corações dos israelitas; os bizantinos
conservaram os ícones (pinturas religiosas)
cuja beleza pode ser objecto de contemplação
profundamente espiritual; Lutero conservou
as estátuas nas Igrejas e o crucifixo , sem que
isso afectasse a espiritualidade do culto
luterano evangélico; os Talibans fariam bem
em conservar, como monumentos, os Budas
gigantes, pois seriam sempre grande atracção
turística e fonte de receitas muito necessárias
para a miséria do seu povo. O seu fundamentalismo
islâmico, terrivelmente intolerante,
moveu-os a um crime contra a herança cultural
da humanidade.
Tudo isto nos propõe uma lição ainda não
totalmente interiorizada por todos. O ícone
(ídolo, imagem) nada é em si. Não tem poder,
não ouve nem fala como escreveu o profeta
Isaías. Propor a imagem (o ícone) à adoração
do povo e nele projectar ou concentrar a ideia
do poder ou a acção dos representados, é
estultícia, essa sim merecedora de vigorosa
denúncia. Mas tão ignorantes são os que
fazem dos ícones objecto de adoração, como
aqueles que pensam que queimando ou
destruindo os ícones (imagens) acabam com
a idolatria. Bom seria que todos reconhecessem
e aprendessem que a pior idolatria
está nos corações e que a verdadeira purificação
tem de ser feita no espírito do adorador,
pois é aí que poderão residir ídolos muito
condenáveis e maléficos, como o amor ao
dinheiro, a vaidade e o orgulho, o egoísmo, a
egolatria, o ódio, etc.
Neste sentido, os verdadeiros e louváveis
iconoclastas são os educadores espirituais,
os pregadores e professores de religião, os
catequistas, etc., que forem capazes de instruir
verdadeiramente os cristãos, ensinando-lhes
que a oração não precisa de ser mediada por
ícones (imagens) mas que estas são expressões
artísticas de fé, e esta não dispensa o
serviço da arte, que pela beleza e espiritualidade
eleva o espírito para Deus.
Por tudo posso ser conduzido para Ele, se
o espírito estiver purificado da superstição
idolátrica.